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Foto do escritorGabriel Viana

Análise de Ciclo de Vida e Fatores de Emissão

Atualizado: 18 de out. de 2023

Como a Análise de Ciclo de Vida de produtos comprados pelas organizações interfere nos seus inventários de GEE



A construção de um Inventário de emissões de gases de efeito estufa depende da busca por dois tipos de informação: as atividades realizadas pelas organizações inventariantes, e os fatores de emissão correspondentes a estas atividades. Fatores de emissão são valores representativos, que demonstram a relação entre a quantidade emitida de um agente específico e uma atividade geradora deste agente.

No contexto do inventário de emissões, e de acordo com a metodologia do GHG Protocol, os agentes emitidos são os gases de efeito estufa (CO2, CH4, N2O, e os outros gases regulados pelo Protocolo de Quioto), e as atividades geradoras são aquelas definidas pela análise dos limites operacionais da organização inventariante. Os fatores de emissão são expressos em massa de agente emitido por métrica de atividade geradora (exemplo: toneladas de CO2 por litros de combustível consumido).

O assunto de hoje será sobre o entendimento e a construção de um tipo e fator de emissão específico: aquele relacionado à fabricação do produto, desde a extração de suas matérias-primas até a obtenção pela organização inventariante. E, para entender melhor este processo, iremos entrar no assunto de Análise de Ciclo de Vida (ACV) e processos cradle – to – gate.


A Análise de Ciclo de Vida

Uma Análise de Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica para estimar os impactos ambientais da produção, utilização e descarte de um certo produto, material ou processo. Uma ACV pode ser completa, abrangendo todos os impactos ambientais ocasionados pelo produto em questão (emissão de poluentes atmosféricos, gestão de recursos hídricos, toxicidade ambiental, entre outros), ou pode ser parcial, analisando apenas um desses aspectos. A ACV também pode ser segregada de acordo com a parte do ciclo de vida do produto que está sendo analisada, de acordo com as seguintes denominações:

  • Cradle – to – grave: Do berço ao túmulo. abrange todo o ciclo de vida do produto em questão, desde a extração de sua matéria-prima, processamento, armazenamento, transporte e distribuição para o consumidor, uso deste pelo consumidor, manutenções e o descarte final.

  • Cradle – to – gate: Do berço ao portão. Abrange uma etapa parcial do ciclo de vida do produto, que vai desde a extração de sua matéria-prima até o momento anterior à aquisição do produto pelo consumidor. Impactos de uso e descarte deste produto não são analisados.

  • Cradle – to – cradle: Do berço ao berço. Assim como um ciclo cradle – to – grave, analisa desde a extração da matéria-prima até o uso do material pelo consumidor, mas é aplicado para aqueles materiais que são reutilizados, reciclados ou reaproveitados ao invés de descartados.

Portanto, um projeto de ACV deve sempre primeiro delimitar quais impactos ambientais serão analisados e se são relevantes para o produto em questão, quais as etapas do ciclo de vida a serem analisadas para, então, o levantamento de dados associados aos impactos e processos em relevância. Um Inventário de emissões de GEE, por exemplo, pode ser considerado uma ACV direcionada às emissões de gases de efeito estufa dos produtos e processos fornecidos pela organização inventariante.

Fonte: Autoria Própria – ARCA Sustentabilidade


Fatores de emissão cradle – to – gate

No contexto de inventário de emissões, os fatores de emissões para produtos comprados são aqueles referentes aos processos de fabricação, tratamento e distribuição dos produtos comprados pela organização inventariante antes que estes adentrem os limites operacionais da organização. São, portanto, fatores decorrentes de uma ACV cradle – to – gate associado às emissões de GEE dessa etapa do ciclo de vida.



Fonte: Autoria Própria – ARCA Sustentabilidade


Em outros termos, também pode ser referido como a intensidade de emissões de um determinado produto, a qual é a divisão das emissões totais nos processos cradle – to – gate do produto por uma métrica de produção – geralmente, a massa ou volume produzidos, mas também pode ser definido como algo específico, dentro do contexto da produção.


Fator de emissão = Emissões de CO2 em massa (Cradle - to - Gate)/Métrica de Produção


Qualidade da obtenção dos dados

Apesar da teoria ser bem consolidada, nem sempre obter esses fatores de emissões é uma tarefa fácil na prática. Muitos produtos não possuem uma ACV cradle – to – gate consolidada, o que dificulta a obtenção de dados referentes às emissões de sua produção. Algumas análises também não levam em conta o processo inteiro de produção buscado por uma organização inventariante, o que é um dado determinante para identificar se o fator de emissão pode ser utilizado para os objetivos da organização ou não. Segundo o IPCC, existem três classificações para determinar a qualidade de um fator de emissão utilizado:


· Tier 1: fatores de menor qualidade em relação aos dados de sua construção. No contexto para produtos comprados, são aqueles que não abrangem uma cadeia de produção cradle – to – gate completa, ou que são decorrentes de apenas um local de produção não relacionado com a cadeia de fornecimento da organização inventariante. Podem ser decorrentes de estudos de artigos, teses, dissertações, outras fontes acadêmicas ou provenientes de banco de dados de ACV.


· Tier 2: fatores de qualidade intermediária. No contexto citado, são aqueles obtidos por ACV generalistas de um certo tipo de produto, obtidas por médias de emissões de produção globais ou por países, continentes ou outras regiões. São divulgadas, geralmente, por organizações governamentais ou intergovernamentais, como o Governo do Reino Unido e o IPCC, e alguns bancos de dados de ACV.


· Tier 3: fatores de qualidade alta. São aqueles que as organizações obtêm diretamente dos fornecedores de seus produtos, seja por iniciativas de engajamento, relatos integrados ou relatórios de sustentabilidade com os inventários de emissões e dados de produção dos fornecedores. É preferível que toda organização possua o máximo de fatores de emissão tier 3 mapeados para seus produtos, no entanto, como a maioria das grandes organizações possuem vários fornecedores, e nem sempre estes realizam inventários de emissões, é o tipo de dado mais difícil de se obter.


Contabilização no Inventário

As emissões cradle – to – gate dos produtos são relatadas no Escopo 3 do inventário de emissões de GEE, na categoria 1: Bens e Serviços Comprados. No entanto, caso o produto em questão seja um combustível, sua ACV adquire um contexto especial, visto que o produto em questão, em teoria, não possui descarte, e é consumido em seu uso. Portanto, uma análise de ciclo de vida de combustível até antes dele ser consumido pela organização atinge a denominação de well – to – tank (do poço ao tanque), e as emissões relacionadas a esta etapa são reportadas também no Escopo 3, mas na categoria 3: Atividades Relacionadas a Combustível e Energia fora dos Escopos 1 e 2.


Conclusão

Os fatores de emissão relacionados à fabricação dos produtos obtidos por uma organização são cruciais para aqueles inventariantes que querem realizar um inventário de emissões completo de suas atividades. Organizações como o CDP valorizam cada vez mais as organizações que se dispõem a realizar este mapeamento, e a definição de metas pela SBTi também exigem que estas emissões sejam levadas em conta para as organizações que desejam ingressar na iniciativa. No entanto, a obtenção destes fatores requer uma ACV cradle – to – gate detalhada da cadeia de fornecimento das organizações. Como isto não é a realidade de muitos setores, fatores de emissão gerais podem ser utilizados, mas, para uma maior precisão e confiabilidade dos dados, a geração de redes de engajamento das organizações com seus fornecedores é cada vez mais desejável para que os inventariantes possam reportar e trabalhar com seus dados de emissão com confiança e transparência.

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