Por: Letizia Bezerra, Lucas Ratti e Claudio Mendonça
Planta de estação de tratamento de esgoto com biodigestores em Patos – MG.
O tratamento de efluentes pode ser uma importante fonte de emissão de Gases de Efeito Estufa, dependendo do tipo de tratamento que é aplicado.
Em tratamentos aeróbicos, como tratamentos com lodos ativados, onde o oxigênio está presente, ocorre a emissão de dióxido de carbono (CO2). Entretanto, estas emissões são consideradas neutras, pois resultam da decomposição de matéria orgânica, integrando assim um ciclo natural de CO2 na atmosfera. Também são conhecidas como emissões biogênicas e não são contabilizadas em Inventário de Gases de Efeito Estufa (saiba mais sobre o Inventário de GEE aqui). Devido à neutralidade de suas emissões, os processos de tratamento aeróbico de efluentes surgem como uma opção altamente eficaz para reduzir as emissões de uma organização que necessita tratar seus efluentes.
Já os tratamentos anaeróbicos, como por exemplo reatores anaeróbicos e lagoas de estabilização, ocorrem em condições de baixo oxigênio ou na ausência dele, levando à produção de metano (CH4). O metano é um potente gás de efeito estufa, com um Potencial de Aquecimento Global (PAG) 28 vezes maior do que o CO2 (IPCC-AR5), tornando-se um grande ponto de atenção para empresas com ETEs, uma vez que podem representar grande parte de suas emissões diretas (Escopo 1). As emissões de metano das estações de tratamento de efluentes podem ser monitoradas mensalmente pelo Sistema ARCA ESG, que registra os indicadores para calcular as emissões, permitindo um bom monitoramento do Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa para os gestores da área ESG das empresas.
Após esse processo, a organização terá a capacidade de implementar medidas de descarbonização e adotar práticas mais sustentáveis, visando a redução das emissões.
Uma ponte para energia limpa e sustentável
Aquilo que à primeira vista parece ser um desafio em relação às Mudanças Climáticas, por ser uma fonte significativa de emissão de metano, pode se tornar, na verdade, uma grande solução. O gás metano pode ser aproveitado de maneira benéfica para a geração de energia limpa.
Diversas empresas já realizam a captação e utilização do metano (CH4) das ETEs. Inicialmente, com o metano na forma de biogás, ou seja, com outros gases combinados, é possível realizar sua queima direta para produzir energia, gerando energia elétrica 100% renovável. Por outro lado, é possível realizar uma purificação deste biogás, separando o metano para que seja aproveitado como biometano. O biometano pode ser utilizado, por exemplo, em caldeiras movidas a gás natural ou até mesmo em veículos movidos a gás natural, sem a necessidade de adaptação dos motores.
Como exemplo, a Sabesp instalou no município de Franca (SP) um posto de abastecimento de biometano para veículos, obtido a partir da Estação de Tratamento de Efluentes do município (ver notícia aqui).
Em sistemas de tratamento anaeróbicos, o aproveitamento do biometano demanda a instalação de um biodigestor, equipamento que retem o gás proveniente das lagoas e canaliza o biogás produzido até sua purificação, armazenamento e, finalmente, utilização.
Para uma estratégia de mitigação das Mudanças Climáticas, a prioridade para uma organização que busca a descarbonização de suas atividades é evitar a fuga do metano das ETEs para a atmosfera. Embora a utilização desse gás para a geração de energia elétrica, aquecimento de caldeiras ou abastecimento de veículos seja a melhor opção, tais iniciativas exigem investimentos, que são mais viáveis quando o volume de metano gerado é altamente expressivo na atividade.
Uma abordagem mais simples para reduzir as emissões é a instalação de um biodigestor e a queima do biogás por meio de flare. Essa medida é suficiente para eliminar as emissões de GEE dessa fonte e promover uma significativa redução das emissões contabilizadas no inventário de GEE da organização, uma vez que a queima do metano resulta na conversão em CO2, reduzindo em 28 vezes as emissões da ETE. Assim como nas estações de tratamento aeróbicas, este CO2 é biogênico e não é contabilizado nas emissões antrópicas de GEE dos inventários corporativos.
Ponto de partida
Vale lembrar que, o primeiro passo, antes de implementar qualquer tecnologia de redução das emissões é realizar o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Por meio da Plataforma ARCA ESG, é possível monitorar mensalmente as emissões de GEE de cada uma das fontes de sua organização, com dashboard de visualização dos resultados de suas emissões, facilitando o processo de gestão dos indicadores climáticos.
Após realizar o monitoramento das emissões, a consultoria ARCA Sustentabilidade pode colaborar no desenvolvimento do Plano de Descarbonização da companhia. Nesse processo, serão priorizados os investimentos de melhor resultado para a redução das emissões, constituindo uma contribuição valiosa para a comunicação no mercado e gerando ganhos significativos em termos de reputação para a sua organização.
Artigo bem escrito explicando com clareza sobre o assunto.
Parabéns aos autores.
Lourival